“Meno”, de menstruação. “Pausa”, de parada. Menopausa: é falar nela, e os fantasmas aparecem.
“Menopausa é uma série de problema, porque pelo menos comigo é problema”, reclama uma senhora.
Menoupausa não é um problema. “Menopausa é uma data: é a data da última menstruação”, explica César Fernandes, diretor da Sociedade Brasileira do Climatério. “A menopausa não é uma doença. É um fenômeno biológico que coincide com uma porção de doenças, porque coincide com o envelhecer, com a maturidade”, complementa o ginecologista Paulo Canella.
“A produção de hormônio diminui”, ressalta a professora Maria Quirino. “Começa a ter várias modificações no seu organismo”, acrescenta uma senhora. Isso tudo é verdadeiro. “Você começa sentir um certo calor, depois vem a secura na vagina”, complementa a dona de casa Sônia Lions. Mas esse “calor” não acontece com todas as mulheres.
“A menopausa acontece a todas as mulheres, os problemas da menopausa acontecem na minoria delas, e todos esses problemas são contornáveis”, afirma Regina Moura, mestre em Sexologia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
Mas, muitas mulheres, tornam as conseqüências da menopausa problemas incontornáveis, principalmente em relação à sexualidade. É o que mostra uma pesquisa do Ibope sobre como as mulheres encaram essa fase da vida.
Um dos objetivos da pesquisa era medir a satisfação sexual após a menopausa. Foram entrevistadas mulheres de todo Brasil. E a conclusão é que 45% das brasileiras, com 45 anos ou mais, não têm vida sexual ativa. Não fazem sexo.
“É um número bastante grande. Praticamente uma, de cada duas mulheres na pós-menopausa, se quisermos arredondar esses números, estão com inatividade sexual”, avalia César Fernandes.
A maneira como a menopausa afeta a vida sexual de uma mulher pode ser completamente diferente de uma pessoa para outra. Sônia, por exemplo, chegou a ter medo de manter relação sexual com o marido quando entrou na menopausa. “No meu caso, eu senti dor, a vagina ficou muito seca”, conta a dona de casa.
Já a telefonista Tânia Martins teve uma experiência completamente diferente. “Minha vida sexual melhorou muito”, revela Tânia.
Afinal: o que fez Tânia e Sônia terem experiências tão diferentes? “As razões pelas quais uma mulher perdeu o prazer tem uma origem psicológica, e tem uma origem física inevitavelmente”, explica Canella.
“As mulheres na pós-menopausa, que não têm bom nível estrogênico, podem atrofiar a vagina, ficar mais fininha, ter mais dificuldade para produzir lubrificação. Isso cria uma condição de relação sexual muito desconfortável. Pode ocasionar dor e desconforto”, complementa Fernandes.
Sônia tem consciência que o lado emocional pesa na falta de desejo. Quando ela e o marido trocam o quarto de casa pelo quarto de um motel, por exemplo, tudo melhora. “No motel fica tudo muito melhor. Fica diferente. Eu já não sinto tanta secura, não sinto a dor. A dor diminui muitíssimo”, conta Sônia.
Do total das mulheres entrevistadas, 42%, menos da metade, estão satisfeitas em relação ao prazer e a quantidade de relações sexuais. Mas 12% estão muito insatisfeitas.
Paulo Canella diz que a menopausa não interfere no prazer, nem na freqüência sexual. Ele compara o ciclo reprodutivo de uma mulher ao ciclo da carreira de um jogador de futebol.
“O jogador de futebol, quando está com 32 anos, está muito bem, apesar de não estar mais jogando na seleção, por exemplo. A mesma coisa com a sexualidade. A mulher já não está tendo mais relação sexual com a mesma freqüência de antes, mas está lá, muito bem”, explica Canella.
A dona de casa Mercês Assunção concorda: “Pode até ter menos relações sexuais, mas o prazer é o mesmo. Quando o parceiro cola então, é parceiro mesmo, já viu...”
“Alguns casais na fase dos 50, 60 anos, acaba encerrando a vida sexual. Normalmente porque a mulher fala: ‘Entrei na menopausa, acabou.’ E não acabou não.”, afirma a psicóloga Maria Luiza Macedo.
“Tem mulheres que, depois dos 60 anos, descobrem o que é um orgasmo. Ela passou a vida inteira dela sem ter descoberto esse interesse. Ela vai chegar aos 50 anos sem o mesmo interesse. Aí ela vai dizer que ela ficou assim por causa da menopausa”, acrescenta Regina Moura.
“Eu acho que quanto mais velha eu fico, o tesão é maior”, afirma Mercês. “A gente tem que saber fantasiar, saber conviver com a menopausa, e não fazer um da menopausa um bicho papão”, conclui Tânia.
Artigo Publicado pelo Fantastico (http://fantastico.globo.com/Jornalismo/FANT/0,,MUL695005-15605,00-PRAZER+NA+MENOPAUSA.html)